Morar em Paris me deu a oportunidade de ter tempo de explorar cada cantinho dessa cidade incrível e assim fazer muito além dos programas turísticos básicos que entram no roteiro de quem vem pra cá pela primeira vez.
Como nem todo mundo tem essa oportunidade, reuni algumas sugestões interessantes e inusitadas para quem já conhece um pouco a cidade ou simplesmente se interessa por programas diferentes – que fujam do óbvio.
Portanto, se o que você busca é autenticidade, esse post vai cair como uma luva pra você!
1 – CONHECER OS SEGREDOS DE PARIS A BORDO DE UM CONVERSÍVEL ANTIGO
Nada mais mágico do que passear por Paris num carro conversível antigo (e verde!) pra descobrir lugares secretos da cidade!

Pelo menos foi o que achei…rs Foi meu momento preferido em Paris durante esse tempo todo que moro aqui (já faz mais de 2 anos).

Fizemos o passeio com a empresa CEDRIC’S PARIS, onde o guia/condutor Chris, parisiense e apaixonado por história, nos levou à lugares incríveis repletos de história e fatos curiosos (ele adapta o itinerário na hora de acordo com o que a pessoa ainda não conhece ou tem mais interesse, é perfeito!).

Cada guia é proprietário de um carro antigo e o Chris é dono do Yuna, um 2CV verde que faz todo mundo na rua olhar e sorrir pra quem está dentro dele!

O Secret Tour da Cedric’s Paris dura de 1h a 5h (francês ou inglês) e leva no máximo 3 passageiros.
2 – VISITAR A REDE DE ESGOTOS MAIS VASTA DO MUNDO
O cheiro pode não ser dos mais agradáveis, mas é uma aventura bem interessante!
Paris possui 2.600km de rede de esgotos, que forma uma verdadeira cidade subterrânea!

Em quase meio quilômetro de trajeto, temos a oportunidade de conhecer de perto um sistema inteligente de tratamento d’água que é considerado o mais apropriado do mundo quanto às exigências de higiene.

O MUSEU DOS ESGOTOS (MUSÉE DES ÉGOUTS) também mostra máquinas utilizadas para limpeza das galerias e alguns objetos interessantes encontrados no subterrâneo ao longo dos anos.
Entrada da visita: Pont de l’Alma – Place de la Resistance – em frente ao 93 Quai d’Orsay. Funciona todos os dias, exceto às quintas e sextas-feiras, das 11h as 16h

3 – FAZER UM TOUR DE ARTE URBANA EM BELLEVILLE
Que tal deixar um pouco de lado os lindos monumentos de Paris pra visitar um bairro descolado e pouco explorado pelos turistas?

Estou falando do bairro de Belleville, lugar que recebeu a partir do século 20 diversos imigrantes de todos os cantos do mundo, que se misturaram aos artistas do bairro e fizeram com que esse lugar tivesse uma identidade única na cidade.

Um dos bairros mais conhecidos de Paris pela cena artística é Montmartre, porém num determinado momento já não havia mais espaço pra todos os artistas no bairro. Foi aí que eles começaram a migrar para Belleville.
Localizado numa colina, Belleville estava bem abandonado até a década de 90, mas foi revitalizado pela Prefeitura e hoje é sinônimo de diversidade e arte, mais precisamente arte urbana (grafite, street art…vários tipos de intervenções artísticas).


Basta caminhar pela charmosa Rue Sainte-Marthe, pela famosa Rue Dénoyez ou ainda pela Rue de la Fontaine au Roi, pra sentir o clima da região. Fique atento aos muros, portas, calçadas, há sempre uma intervenção artística inusitada.
Se quiser entender um pouco mais sobre arte urbana e seu desenvolvimento em Paris, a sugestão é fazer um tour guiado. Nós fizemos com a empresa STREET ART PARIS e recomendo.
Durante 2h percorremos Belleville pra conhecer um pouco mais sobre esse universo…
Conhecemos obras de diversos artistas, muitos deles famosos nesse meio, ouvimos histórias curiosas e saímos de lá encantados com a diversidade do bairro!
Dica: Não vá embora sem antes subir no topo do Parque de Belleville, mais precisamente na Rue Piat.

De lá se tem uma das vistas mais bonitas e menos concorridas de Paris 😉
Clique aqui pra conferir nosso post “10 lugares para ver Paris do alto”.
4 – ASSISTIR UM FILME NUM DOS CINEMAS MAIS CLÁSSICOS DA CIDADE
Em frente à estação de metrô Barbès-Rochechouart (170, Boulevard Magenta) encontramos o LOUXOR – PALAIS DU CINÉMA.
Construído em estilo art déco e inspirado no antigo Egito, o Louxor foi inaugurado em 1920.

Viveu seu auge após o fim da Segunda Guerra Mundial, porém caiu em decadência na década de 70. Na década seguinte se transformou numa boate, porém em 1988 também fechou.
Foi quando em 2001 a comunidade do bairro se mobilizou pra salvar o prédio que estava completamente abandonado. Após vários anos de trabalho, o Louxor reabriu em 2013! Sua fachada e a sala 1, que é a principal, foram completamente restauradas!

É um programa imperdível para os cinéfilos 😉

Duas dicas: Se quiser economizar, as sessões matinais são mais em conta (5€80 até meio-dia). A segunda dica é pra que você tome cuidado quando for ao Louxor, apesar de estar na frente da saída do metrô, ali não é nada turístico e tem muitos homens vendendo produtos na calçada e às vezes abordando quem passa por ali, não é mega perigoso, mas é importante ficar esperto!
5 – DESCOBRIR UM CEMITÉRIO SUBTERRÂNEO
No século 18 Paris enfrentava um problema grave de superlotação nos cemitérios!
Pressionado pela população que temia doenças e epidemias, o Rei Luís 16 encontrou uma solução pra essa questão: remover os ossos dos cemitérios superlotados e abrigá-los nas galerias subterrâneas da cidade.

A cidade de Paris tem 300km de galerias subterrâneas (20 metros de profundidade), que surgiram por causa da extração de pedra calcária utilizada para construir diversos monumentos da cidade, como a Notre Dame, por exemplo.
Parte dessas galerias passou então a receber naquela época os ossos excedentes dos cemitérios e se transformou nas CATACUMBAS, nome que faz referência às Catacumbas romanas.
Daí em 1809 alguém teve a incrível ideia de organizar parte dos ossos e transformar o local num museu, um dos primeiros da cidade!
Ao longo dos 1,5km abertos hoje para visitação, podemos ver as placas que sinalizam de qual cemitério os ossos foram retirados, além de trechos de poemas um tanto macabros.
Entrada das Catacumbas: 1, avenue du Colonel Henri Rol-Tanguy (Praça Denfert-Rochereau). Funciona de 3f a domingo das 10h as 20h30. Dica: as filas são enormes e super lentas, recomendo chegar cedo, por volta das 9h30 ou comprar o bilhete corta-fila pela internet (custa 10 euros mais caro).
6 – CONHECER O ANTIGO APARTAMENTO DE UMA DAS CANTORAS FRANCESAS MAIS FAMOSAS DE TODOS OS TEMPOS
Em dois pequenos cômodos de um prédio residencial do 11ème (5 Rue Crespin du Gast) funciona o MUSÉE ÉDITH PIAF, um pequeno espaço em homenagem a essa grande cantora!
O apartamento que foi habitado por Édith no início de sua carreira, hoje pertence à Bernard Marchois, amigo, fã e escritor de duas biografias sobre a cantora. Ele decidiu então dedicar dois cômodos da casa onde vive para homenagêa-la.
Ao som de “La vie en rose” tocando numa vitrola antiga da sala, somos convidados à entrar nesse pequeno universo, onde estão expostas roupas – inclusive seu famoso vestido preto – sapatos (tamanho 34), luvas, fotografias, cartas, discos de ouro, cartazes de seus shows etc.
Durante a visita, que precisa ser agendada por telefone (+33 01 43 55 52 72), Bernard conta brevemente a história dos principais objetos expostos e responde eventuais perguntas (apenas em francês!!!). Infelizmente não pode tirar fotos lá dentro 🙁
O museu é privado e mantido pela Associação dos Amigos de Piaf, assim como seu túmulo no Cemitério Père Lachaise. A entrada é gratuita, mas eles aceitam doações.
Funciona as terças e quartas das 13h as 16h e as quintas das 10h as 12h.
7 – FAZER COMPRAS NOS BROCANTES DA VILLAGE SAINT-PAUL
No famoso bairro do Marais, longe do burburinho, mais precisamente entre a Rue Saint-Antoine e o Sena, situa-se a VILLAGE SAINT-PAUL, um lugar repleto de antiguidades…
Há várias passagens entre os prédios que nos levam a pequenas praças repletas de antiquários e restaurantes.
Aos finais de semana esses espaços são tomados pelos brocantes, algo bem tradicional aqui na França.
Os brocantes são uma espécie de feira onde as pessoas vendem coisas usadas. Geralmente há de tudo, de livros raros e antigos até brinquedos e roupas vintage.
É um lugar super original pra fazer umas comprinhas e se misturar com os parisienses.

Dica: na Village Saint-Paul há vestígio de uma antiga muralha de proteção da cidade construída em 1190.

Menos de dois séculos depois, a fortificação foi considerada inútil e poucos fragmentos restaram. O maior e mais bem conservado fica no endereço 13 Rue Charlemagne – 4ème.
Aproveite pra dar uma conferida 😉
8 – DAR UM MERGULHO NUMA PISCINA QUE FLUTUA SOBRE O RIO SENA
A PISCINA JOSÉPHINE BAKER é uma das quase 40 piscinas municipais de Paris, mas o que a diferencia das demais é justamente sua localização privilegiada!
Trata-se de uma piscina flutuante com vista para o Sena na região do 13ème!
No alto verão (geralmente Julho e Agosto), o teto da estrutura é aberto, a transformando assim numa piscina ao ar livre! Outra vantagem do lugar é o solarium do último piso 😉 Eu adoro!!!

Pra entrar é simples: custa 6 euros pra ter acesso por 2h. Se quiser ficar mais, é cobrado 6 euros por hora adicional. O preço é um pouco salgado comparado às demais piscinas municipais da cidade, mas vale super a pena!
Ah…pra entrar na piscina é exigido toca de cabelo. Caso não tenha, eles vendem lá! Não precisa de atestado médico pra entrar na piscina (#medoooo).
Onde fica: Port de la Gare – Quai François Mauriac (metrô mais próximo: Quai de la Gare – linha 6)
9 – VISITAR UM MUSEU DE ARTE URBANA
Que tal visitar um museu totalmente dedicado à arte urbana?
O ART 42 funciona dentro de uma escola de desenvolvimento de informática, toda modernosa e descolada. As obras estão espalhadas por todo o prédio, do saguão às salas de aula, e só podem ser visitadas com um guia.
Na visita aprendemos bastante sobre a origem da arte urbana e sobre diversos artistas – o bacana é depois andar pela rua e reconhecer as obras de alguns deles. É imperdível pra quem se interessa por arte de rua!
As reservas devem ser feitas pelo site ART 42. A visita guiada é gratuita e disponíveis somente às terças a noite e sábados de manhã em inglês ou francês.
Já conferiu nosso post “12 museus em Paris que você não sabia que existiam”?
10 – PASSEAR NA GRANDE MESQUITA DE PARIS
Construída entre 1922 e 1926 no Quartier Latin, a GRANDE MESQUITA DE PARIS (GRAND MOSQUÉE) é uma atração super agradável e diferente em Paris.

O prédio de arquitetura mourisca buscou inspiração em Alhambra para esculpir as arcadas do pátio central, que possui também lindos detalhes em mosaicos (amo esse chão verde!)

A entrada custa apenas 3 euros e lá dentro você pode também visitar a sala de orações. Lá também funciona um spa, onde você pode tomar um banho turco ou fazer uma massagem.
No final não deixe de passar no salão de chá da mesquita, onde há vários doces gostosos e um chá de menta delicioso.

Onde fica: 2 bis Place du Puits de L’Ermite – Aberto diariamente pra visitação – das 9h as 12h e das 14h as 18h, exceto às sextas-feiras.
11 – DESCOBRIR A GALERIA DE ARTE 59 RIVOLI
Por fora nada mais é do que um típico prédio parisiense na famosa Rue Rivoli, mas dentro funciona uma inusitada e acessível galeria de arte, a 59 RIVOLI.
Os andares abrigam os ateliês de 30 artistas, 15 permanentes e 15 temporários.
A escadaria de acesso aos andares é toda grafitada, colorida, repleta de mensagens curiosas e você pode andar livremente por lá pra descobrir as obras. Muitas vezes é possível ver os artistas trabalhando em algum projeto.
Onde fica: 50 Rue Rivoli. Funciona de terça a domingo das 13h as 20h.
12 – BATER PERNA PELAS PASSAGENS COBERTAS DA CIDADE
Pouca gente sabe, mas há diversas galerias em Paris, que na realidade são passagens cobertas que atravessam os quarteirões pelo meio dos prédios.
Essas passagens surgiram no século 19 e funcionavam como centros comerciais. Eram cobertas para proteger os parisienses da chuva durante as compras e a maioria tinha um teto de vidro pra permitir a entrada de luz natural.
A cidade chegou a ter 150 galerias, mas hoje restam apenas cerca de 20. A maioria delas, pelo menos as mais famosas, estão concentradas entre o Palais Royal e o Grands Boulevards.

Na foto abaixo vocês podem conferir um roteiro a pé para percorrer algumas das mais bonitas: a Passage des Panoramas, que é a mais antiga de todas (1799), a Galerie Vivienne e a Galerie Colbert, que são as minhas preferidas, a linda Galerie Véro-Dodat e a Passage du Grand Cerf.

Andando por ali, com certeza você irá encontrar outras passagens interessantes e muitas lojinhas interessantes dentro delas.
13 – CONHECER O LUGAR ONDE DESCANSAM OS CORPOS DA MONARQUIA FRANCESA
Construída sobre a sepultura de São Dinis (Saint Denis em francês), santo padroeiro da França e possivelmente o primeiro Bispo de Paris, a BASÍLICA DE SAINT DENIS é um dos monumentos mais importantes do país.

Em estilo gótico, a Basílica que ganhou em 1966 status também de Catedral, abriga os corpos de 43 reis, 32 rainhas e 10 servos da monarquia francesa. Inclusive, os corpos de Maria-Antonieta e Luís XVI, que foram guilhotinados durante a Revolução Francesa na Place de la Concorde (1793).
Apesar de sua importância histórica, a Basílica-Catedral não costuma entrar no roteiro dos turistas pela Cidade Luz. Uma possível explicação é que ela situa-se no subúrbio norte de Paris, a 10km do centro da cidade (cerca de 40 minutos em transporte público).
Apesar da distância, adianto pra vocês que a visita à Basílica-Catedral de Saint Denis é um programa muito diferente e super interessante!

O local abriga a maior coleção de esculturas funerárias dos séculos 12 ao 16 e tumbas monumentais em estilo renascentista.
Sugiro que faça uma visita guiada ou ao menos alugue o audioguia, assim vai poder compreender melhor toda história por trás desse lugar tão simbólico na França.
Curiosidade: Inicialmente, os restos dos corpos de Maria-Antonieta e Luís XVI foram enterrados numa vala comum no cemitério da Madeleine (1793). Apenas em 1815 é que seus corpos foram transferidos para a Basílica de Saint Denis, ao lado dos demais monarcas franceses.

O que pouca gente sabe (inclusive parisienses) é que após o término da revolução, Luís 18 mandou construir uma capela em estilo neoclássico em homenagem ao casal sobre o antigo cemitério da Madeleine, a CHAPELLE EXPIATOIRE.
Durante muito tempo a capela quase foi destruída, pois era considerada um símbolo do Antigo Regime. Pois ela resistiu ao tempo e foi classificada em 1914 como monumento histórico. É aberta pra visitação 😉
Bisous,
Melissa