Desde que visitei o Museu de Van Gogh em Amsterdã, me tornei uma grande fã do artista, não só pelo seu trabalho brilhante, mas também pela sua complexa e triste trajetória…
Seus últimos 70 dias de vida foram na pequena cidade de Auvers-sur-Oise, à 30 km ao norte de Paris, onde o artista viveu seu momento criativo mais fecundo. Ao longo desses 70 dias, pintou mais de 80 quadros!

Van Gogh pintava desde criança, mas passou a realmente investir na carreira de pintor ao fim dos seus vinte anos. Após seguir uma formação artística durante alguns meses em Bruxelas, voltou a casa dos pais para começar a realizar seus primeiros trabalhos e se encontrar em sua própria arte.
Ao longo dos anos seguintes mudou-se de cidades diversas vezes enquanto aprimorava seu trabalho, especialmente desenhos com modelos vivos. Muitas vezes, por falta de dinheiro para pagar os modelos, ele fazia auto-retratos.

Em 1886 se mudou para a casa de seu irmão Theo em Paris, que o sustentou até o fim da vida e com quem ele tinha uma ligação muito forte. Seu irmão, comerciante de obras de arte, o apresentou a obras de diversos pintores impressionistas e pós-impressionistas, que o influenciaram bastante na época.
Foi em Paris também que ele fez vários amigos artistas e teve a ideia de mudar para o sul do país, onde pretendia abrir um centro artístico. O único que aceitou o convite foi Paul Gauguin (1848 – 1903), que se instalou com Van Gogh em Arles, cidade com lindas e bucólicas paisagens.
Foi em Arles que Van Gogh pintou várias obras com girassóis e onde conseguiu vender seu único quadro em vida: “A vida encarnada”.

A convivência com Gauguin foi bem pacífica no início, porém com o tempo eles começaram a se desentender e a doença mental de Van Gogh começou a se manifestar. Seu estado psicológico refletiu em suas obras, período em que abandonou os pontilhados e passou a pintar com rápidas e pequenas pinceladas.
Como ele sofria com alucinações e surtos psicóticos, chegou a ameaçar Gauguin num determinado momento com uma navalha. Após esse episódio, entrou em depressão e cortou a própria orelha. Preocupado, Van Gogh pediu para ser internado num hospital psiquiátrico em Saint-Rémy, onde ficou cerca de um ano.
Sempre que se sentia bem, o artista pintava no jardim do hospital, onde trocou as pinceladas por curvas em espiral, marca de seus trabalhos dessa época.

Ao sair do hospital, decidiu ficar mais perto do irmão Theo, com quem trocava cartas regularmente. Porém, Van Gogh achava Paris muito barulhenta e julgou que a cidade não seria uma boa opção para sua saúde mental.
Foi então que resolveu se instalar em Auvers-sur-Oise, um pequeno vilarejo próximo a Paris, onde já viviam na época alguns outros artistas. Van Gogh se encantou pelo lugar: “É o verdadeiro campo, característico e pitoresco” – frase extraída de uma carta enviada ao irmão Theo em 20.05.1890.

Sob os cuidados de um médico psiquiatra da cidade, que se tornou um grande amigo, ele se instalou no sótão da pensão Auberge Ravoux, onde fica o quarto número 5.
O lugar era super precário, pouco iluminado e sem ventilação. Como era verão, Vincent costumava sair cedo do quarto para pintar e só voltava na hora de dormir.

Foi ao longo dos 70 dias em Auvers-sur-Oise que o artista teve uma intensa atividade criativa e de onde saíram muitos dos seu trabalhos mais famosos.
Após pegar um mapa no Office de Tourisme de Auvers-sur-Oise, é possível percorrer um circuito com 29 pontos da cidade para identificar os locais que inspiraram muitas dessas obras.
Além da Igreja de Auvers e os campos de trigo (fotos mais acima no post), alguns dos outros pontos do circuito são a Prefeitura da cidade…

…e o jardim de Daubigny (artista que morava na cidade na mesma época).
Ao fazer o circuito, os lugares das obras são facilmente identificados, pois há sempre uma foto do quadro do artista ao lado da paisagem, o que torna também a experiência mais interessante!
Apesar da energia e inspiração para pintar, a vida se tornou um fardo muito grande para o artista, que um dia saiu de casa e se dirigiu a um campo de trigo, onde disparou um tiro contra o peito. Ele se arrastou de volta à pensão e foi levado ao seu quarto, onde recusou socorro.
Seu irmão foi avisado, e dois dias depois ele morreu nos braços de Theo. Suas últimas palavras ao irmão foram: “A tristeza durará para sempre”.
Seu quarto nunca mais foi alugado, já que ninguém queria morar no quarto de um suicida. Desde 1926 o Auberge Ravoux ficou conhecido como a “Casa de Van Gogh” e é considerado o menor museu do mundo.
Não há nada pra ver, o lugar está vazio, mas para quem é fã do artista ou tem interesse por sua história é emocionante conhecer o lugar.

Ao subir por uma escada bem antiga, saímos em frente a porta do quarto de Vincent. Uma guia conta brevemente o período do artista na cidade e sobre sua morte (francês e inglês – cerca de 5 minutos). Podemos visitar também o quarto ao lado, que era ocupado na época por um outro pintor e onde há ainda mobiliário da época. No final da visita, somos convidados a assistir um filme de 13 minutos numa sala de projeção, que mostra trechos das cartas trocadas entre os irmãos e um pouco do trabalho de Van Gogh.
A fama póstuma do artista ganhou notoriedade considerável somente após a exibição de suas telas em Paris, em 1901. Hoje há várias obras do artista no Musée d’Orsay.
Quanto a Theo, ele que era quatro anos mais jovem que Vincent, morreu 6 meses depois do irmão, de sífilis. Dizem que na verdade ele morreu de tristeza, já que logo após a morte do irmão entrou num quadro depressivo profundo.
Como homenagem póstuma aos irmãos, após 25 anos de sua morte, os restos mortais de Theo foram enterrados ao lado de Vincent no cemitério de Auvers-sur-Oise, já que naquele ano haviam sido publicadas as cartas trocadas entre eles (o cemitério está no circuito da cidade).

Foi graças a essas cartas que os pesquisadores conseguiram resgatar muitos aspectos da vida e do trabalho do artista, que em pouco mais de uma década, produziu mais de 2.100 obras.
“Não tenho certeza de nada, mas a visão das estrelas me faz sonhar”, Vincent Van Gogh.

Outros lugares pra visitar na cidade, propostos no circuito de Auvers-sur-Oise, compreendem a Casa do Dr. Gachet, a Casa e Ateliê de Daubigny, um pequeno parque com uma escultura de Van Gogh, o Museu do Absinto (bebida que inspirava os artistas) e o Castelo de Auvers-sur-Oise. Os preços das atrações custam cerca de 6 euros.
O jardim do castelo é muito bonito e na Sala Van Gogh, no térreo, há várias projeções de filmes sobre arte.
Ambos são gratuitos e vale a penda dar uma conferida, especialmente o jardim!
Informações práticas sobre a “Casa de Van Gogh”: Onde fica: Place de la Mairie – 52-56 Rue du Général de Gaulle, 95430 Auvers-sur-Oise. Aberto de quarta a domingo das 10h as 18h (última admissão as 17h30). Valor: 6 euros.
Como chegar em Auvers-sur-Oise de trem saindo de Paris: RER C – Ir até Pontoise e de lá trocar para a linha H – sentido Creil. Descer em Auvers-sur-Oise. A “Casa de Van Gogh” fica a 250m da Gare da cidade.

A tarifa de bilhete cobrada pra chegar lá é Zona 5, Clique aqui pra ver quais bilhetes de transporte de Paris abrangem essa zona.
Mais informações sobre a cidade: Office de Tourisme Auvers-sur-Oise.
Se quiser saber um pouquinho mais sobre nossa visita ao Museu de Van Gogh em Amsterdã, Clique aqui.
Olá, eu achei as dicas muito válidas e esclarecedoras.
Porém eu gostaria, se possível uma informação adicional.
Irei em maio a Paris e visitarei Auvers Sur Oise, preciso saber se é possível fazer o circuito “passos de Van Gogh” a pé?
Olá Rute, obrigada pelo comentário! Sim, é possível…fizemos todo percurso a pé, a cidade não é grande, os pontos do circuito são próximos uns dos outros e a cidade é charmosa, então o passeio é super agradável. Abraços, Melissa